Considerações iniciais
O progresso e as inovações tecnológicas provocam mudanças aceleradas no modo de vida da sociedade, nas formas de educar e aprender, nas concepções de ensino e nas qualificações. Além de simples mudanças, esse advento tecnológico tem se caracterizado como um fenômeno que, muitas vezes, impõe à sociedade moderna, hábitos e comportamentos diferentes, transformando a relação do homem com o outro, com o meio ambiente e consigo próprio.
Chamadas de “tecnologias inovadoras”, de “novas tecnologias”, “elementos tecnológicos”, “mídias digitais”, “novas mídias”, as tecnologias de informação e comunicação (TICs) recebem inúmeras denominações mundo afora, pois, seus impactos vêm alterando significativamente o modo de vida e a produção do conhecimento e do saber. De modo geral, pode-se dizer que as TICs compreendem os recursos e possibilidades utilizados para comunicar e obter informações que dispõem de amplos sistemas tecnológicos, de satélite e digitais de funcionamento, por exemplo: a informática e seus derivados, a televisão e mídia impressa e sistema de telefonia.
No entanto, observa-se que existe acerca do apogeu das tecnologias um discurso subjetivo, porém, muito eficaz produzido pela então chamada indústria cultural, que refere-se ao fetichismo criado em torno das TICs. Esse fetichismo promove um certo encantamento sobre as TICs, suas possibilidades e seus produtos, leva ao consumo exacerbado, conduz à substituição gradativa do real pelo simulacro, da experiência formativa pela vivência (BENJAMIN)1 e “dita” regras de como as pessoas devem sentir, pensar e agir para alcançar a “felicidade eterna”, (lembrando que essa suposta felicidade eterna é na verdade efêmera, ou seja, uma ilusão que necessita ser preenchida por “outras felicidades” (instantâneas) a todo momento, o que leva a um consumismo exagerado) a medida que nos apresentam o que é certo e aquilo que deve ser descartado. Humberto Eco (1970, p. 347) destaca o poder de convencimento da indústria cultural sobre a sociedade:
Numa sociedade em que a autonomia individual e a multiplicidade das opiniões são admitidas, mas na qual, por exigências econômicas, realiza-se um direcionamento “oculto” da opinião, a indústria cultural adota os meios de persuasão comercial, mas “ao invés de dar ao público o que ele quer, sugere-lhe o que deve querer ou deve acreditar que quer.” (apud BETTI 1998, p. 45)
A partir disso, apresentar subsídios teóricos que possam contribuir com a análise e discussão mais aprofundada das relações entre as tecnologias de informação e comunicação (TICs) e a Educação Física permeadas pelo discurso da indústria cultural é o objetivo central deste estudo.
Ao discutir indústria cultural e sua relação com a Educação Física, torna-se necessário, primeiramente, compreender a construção histórica desse conceito socialmente construído e seu propósito de se tornar hegemônico nas práticas de vida dos indivíduos.
O conceito de indústria cultural apareceu pela primeira vez, na obra “Dialética do Esclarecimento” escrita por Theodor Adorno e Max Horkheimer e publicada em 1947. O conceito foi criado para indicar a cultura produzida para o consumo de massa, atendendo às necessidades de valor de uso (do seu consumidor). É importante destacar a capacidade da indústria cultural em reproduzir o sistema, reproduzir a ideologia dominante ao ocupar, continuamente, com sua programação, o espaço de descanso e de lazer do trabalhador. O primeiro aspecto da indústria cultural conduz ao consumismo desenfreado da cultura, e de outros bens, como caminho para a realização pessoal.